quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO VALE DO RIO DOCE


A região do Vale do Rio Doce, por fatores econômicos e de localização, teve uma ocupação relativamente recente. A maioria de seus municípios é bem jovem, tendo sido emancipada em meados do século XX.
Apesar de novos, podemos observar que os núcleos urbanos desses municípios já passaram por grande renovação urbana e construtiva, com modificação significativa da paisagem. Em um curto espaço de tempo os municípios da região assistiram a uma rápida transformação de seus territórios.
Simultaneamente a essa rápida transformação da feição das cidades, fatores como o êxodo devido à falta de oportunidades para a geração de renda no campo, esvaziam cada vez mais a área rural. Assim, as expressões culturais próprias do lugar, intimamente relacionadas ao modo de vida no campo, vão se perdendo. Aliada à massificação da cultura, vem ocorrendo uma perda gradual e cada vez mais acelerada do patrimônio imaterial próprio dessas comunidades.
Estes fatores vêm trazendo à tona a discussão sobre a necessidade da preservação da memória e do patrimônio cultural local. Associações comunitárias e organizações não governamentais ligadas à área sócio-cultural e ambiental chegam à conclusão de que o resgate da memória e a revalorização das tradições locais são imprescindíveis para o fortalecimento da identidade das comunidades.
Nesta busca pela preservação, uma interessante alternativa para os municípios tem sido a participação no ICMS critério Patrimônio Cultural. Através da Lei Hobin Hood, uma parcela do ICMS arrecadado pelo Estado e repassado aos municípios mineiros é destinada exclusivamente à preservação do patrimônio cultural. Com isso, os municípios participantes têm a possibilidade de arrecadar recursos para aplicar em ações de resgate e valorização da cultura local.
Uma das ações de preservação utilizadas pelos municípios que participam do ICMS Cultural é a educação patrimonial. Apesar de ser uma abordagem relativamente nova não só na região como em todo país, a educação patrimonial é uma das práticas que mais tem mostrado resultados eficazes, inclusive possuindo efeito multiplicador. As práticas podem ser desenvolvidas com pessoas de todas as faixas etárias da comunidade, mas o foco tem sido geralmente os alunos da rede pública. Quando bem direcionado e tendo caráter interativo, o interesse pelo aprendizado e os resultados obtidos com a aplicação da educação patrimonial nas escolas são grandes.
Nesta rica e envolvente forma de aprendizagem é comum acontecer o repasse desse novo tema dos alunos para seus familiares. Ocorre assim, uma boa repercussão em torno da questão da preservação do patrimônio cultural local. A educação patrimonial acaba por levar a discussão para toda a comunidade, num exercício de consciência crítica e de cidadania.
É certo que a preservação do patrimônio cultural de um lugar só é efetiva e verdadeira se o processo for conduzido por sua própria comunidade. Rodrigo Melo Franco de Andrade, ilustre defensor do patrimônio cultural brasileiro e fundador do antigo SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional dizia que a comunidade é a verdadeira guardiã de seu patrimônio.
Logo, se implantada de forma contextualizada envolvendo a comunidade, a educação patrimonial é uma solução real e acessível aos municípios da região, que, embora relativamente novos, necessitam de alternativas eficazes para o resgate e a valorização de suas referências culturais.

Isabela Grossi Gomes
arquiteta urbanista, especialista em Gestão e Prática de Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural, diretora da OCA – arquitetura e patrimônio cultural e consultora técnica do Instituto Interagir.

Foto: encontro do Rio Doce com o Rio Piracicaba, em Ipatinga. A relação cultural das comunidades com o rio está cada vez mais distante.

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