segunda-feira, 31 de maio de 2010

Veredinha - oratório tem importância cultural reconhecida



Em Veredinha - MG, um importante bem móvel recebeu recentemente o merecido tombamento: o oratório de Santo Antônio dos Presos. Localizado em Gameleiras – comunidade rural do município – o bem fica sob a proteção fiel de uma família que o mantém há várias gerações.
Segundo o atual responsável pelo oratório, Senhor Etelvino Moreira dos Santos, o bem foi construído a pedido do Sr. Albino Sampaio, bisavô do seu avô. Desde então o oratório foi passado de geração em geração, de casa em casa.
Quando Sr. Etelvino era criança, o oratório ficava na casa do avô, José Inês, que morava no povoado de Boiada, também na área rural de Veredinha. O bem ficou sob a guarda do Sr. José Inês até sua morte, em 1968. A partir de então o oratório passou para os cuidados do Sr. Antônio Alves de Azevedo, no povoado vizinho de Gameleira. O bem ficou sob a guarda de Sr. Antônio até a sua morte, em 1997. Com isso, o oratório de Santo Antônio dos Presos foi passado para Sr. Etelvino – filho de Sr. Antônio e que atualmente guarda o bem.
A tradição de história oral acerca do bem envolve o sincretismo religioso, através da devoção cristã e afro-descendente. Segundo contam os moradores da comunidade de Gameleira, há muitos anos, durante a escravidão, dois cativos eram conduzidos presos, quando passaram por uma fazenda em que ficava um oratório. Um dos escravos carregava uma imagem de Santo Antônio no bolso e, assim que viu o oratório, prometeu ao santo que se conseguisse sair daquela situação levaria aquela imagem para ele. Logo depois as amarras do escravo se soltaram e ele conseguiu fugir. O escravo cumpriu a promessa e até hoje a dita imagem de Santo Antônio se encontra no interior do bem. Por esta história a imagem ficou conhecida como Santo Antônio dos Presos.
O bem é utilizado até os dias atuais como instrumento devocional. A família de Sr. Etelvino sempre recebe fiéis, principalmente das comunidades rurais da região, que vão até lá para rezarem em frente ao oratório. Muitos têm o costume de deixar algum bilhete com pedidos para os santos de devoção ou fotografia de ente da família. Outro costume das pessoas é de deixar algumas moedas como sinal de agradecimento aos santos e aos proprietários do oratório, que as juntam e depois utilizam a quantia para doar aos necessitados ou para manutenção do bem.
Os proprietários sempre mantem adornos em volta do oratório, como toalhas bordadas sob vasos com flores, num sinal de reverência e devoção. Em algumas épocas do ano, como em dias de comemorações de santos padroeiros e em datas específicas do calendário católico (como Quaresma, Natal e Páscoa), há rezas e novenas na sala da casa destinada ao oratório, onde se reúne um grupo maior de pessoas.
Especialmente na época da Folia de Reis o grupo de folia da comunidade passa em várias casas, inclusive a casa onde se encontra o oratório, cantando músicas próprias do festejo ao som de caixas e violas. Os proprietários recebem o grupo com comes e bebes e os foliões colocam fitas coloridas e demais objetos de devoção nas imagens e no oratório. Cada fita tem um significado, conforme sua cor.

Texto extraído do dossiê de tombamento do oratório de Santo Antônio dos Presos (técnicos: Isabela Grossi – arquiteta; Clarissa Fazito – historiadora. Coordenação: Lyndon Célio Vieira de Aguiar – Borum Ecoturismo e Projetos Culturais).
Foto: Sr. Etelvino e Sra. Joaquina em frente ao oratório, situado em uma sala da residência do casal em Veredinha (autora: Isabela Grossi).

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